segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Garden

À sombra daquela árvore, um garoto permanecia com os olhos distantes. Seus cabelos ligeiramente claros e bagunçados escondiam parte das dúvidas que lhe atormentavam e o violão, agora quieto sobre seu colo, disfarçava um pouco das frustrações cotidianas. Ele pensava aleatoriamente a respeito do porque estivera ali, naquele instante, procurando preencher algum vazio ou preenchendo-se de um vazio proposital - realmente não sabia ao certo. Ele deixava a mente esvaziar da forma que quisesse enquanto o sol descia gentilmente entre as montanhas, até uma voz ressoar às suas costas...
– Até quando você vai ficar com esse negócio de enfeite? – Disse, saindo de trás do enorme tronco onde o garoto estava encostado. Era uma menina jovem, de vestes modernas e longos cabelos loiros repicados – quase até esbranquiçados – com algumas mechas rosas nas pontas. Sua franja esvoaçava em frente ao rosto com um leve ar de autoridade, embora também transmitisse uma notável doçura no olhar. Precipitou-se um pouco mais ouvindo-o dizer:
– Preciso de idéias pra usar no projeto da faculdade, talvez algo tão brilhante quanto isso aí... – questionava ao observar os raios solares ainda presentes e o seu reflexo claro ao chão. – O que você acha?
– Acho bom – ela lhe deu um sorriso singelo – odeio ter que salvar o mundo em tons pastéis! E sentou-se ao lado, ambos rindo a beça do seu último comentário.
– Vamos, toque alguma coisa! – Continuou a moça.
– Não estou mais com vontade – respondeu o rapaz, como quem encerra o assunto.
– Como se eu estivesse sugerindo, né? Acha que vim até aqui à toa? – replicou ela com firmeza. Encarou-o como se não lhe desse a mínima escolha.
– Ok, ok... – concordou o garoto com a cabeça – o que você quer ouvir?
– Ahhh, qualquer coisa! – respondeu tão ansiosa e alegremente que ele até corou.
– Certo... – logo, endireitou o corpo e colocou o instrumento mais próximo, pronto pra começar a tocar.
Os dois se entreolharam em meio ao barulho do vento, dos galhos, das folhas, e agora dos acordes que brotavam aos poucos. Ele cantava os versos como se sentisse a beleza da natureza que havia em volta, sussurrava palavras como quem espera combiná-las com os ruídos ao redor. A música dançava junto ao tempo que fluía até não restar dúvidas de que chegara o anoitecer. E agora as estrelas cintilantes decoravam um céu escuro e límpido, junto ao fiapo de uma lua que parecia recortada de tão bela.
Clap clap clap!
Ela batia palmas ao fim da última canção, tão empolgada quanto um público de dezenas de pessoas. Parecia demasiadamente feliz com o momento. Ele, tímido com elogios como sempre foi, evitou palavras, mas cerrou os olhos com uma alegria recíproca. Voltaram então a dialogar, ou quase isso...
– Vai, fala alguma coisa! – ela parecia a simpatia em pessoa.
– “Alguma coisa” – disse o garoto em um riso debochado.
– Besta! Alguma outra coisa!
– Acho que me falta um pouco de inspiração...
– Ahh, pára com isso! – e seu tom de inconformada foi cruel. Mas, logo em seguida, falou mais serenamente, como alguém que quer apenas consolar – vai ficar tudo bem, eu sei que vai! – agora sorrindo de orelha a orelha.
– Sei, sei... Você tá fazendo piada!
– Não tô fazendo piada, é sério! Vai, ânimo, olha como a lua tá bonita hoje!
– Você está mais bonita do que ela – ele respondeu após uma pausa, fazendo-a ficar sem graça (e ainda mais sorridente por alguns segundos).
– Hummm... Você tem senso de humor – sugeriu a menina, só pra não deixar de responder.
– E você também tem falta de bom senso – brincou ele, usando a ironia típica de quando estava de bom humor.
– Ahhh, é assim, é? – ela se fez de ofendida, jogando as mãos na cintura e segurando o riso solto – Parou?
– Parei, parei!
Um silêncio agradável tomou conta de ambos. Era como se não precisassem dizer mais nada. Como se o simples fato de estarem ali, e de existirem, simplificasse toda e qualquer coisa a ser dita. Mas ela ainda soltou suas últimas palavras...
– Hey Will... amo você! – e lhe estendeu a mão.
Ele a observou. Estava deitada confortavelmente na grama baixa, encostando a cabeça em uma das raízes da árvore e de braços abertos, como alguém que vislumbra a liberdade. O luar a deixava com a pele ainda mais suave, ainda mais encantadora. E sorria, sorria como só ela parecia capaz de sorrir. Então, gentilmente, ele agarrou a mão estendida com todo carinho possível.
– Eu também te amo, Nay... – seus olhos um pouquinho marejados de felicidade – obrigado por vir!
– Não há de que!
(...)

domingo, 16 de agosto de 2009

Sleeping Well

Respirar e inspirar ar fresco. Nada melhor do que isso pra manter a cabeça nos trilhos. Já havia me esquecido como era gostoso acordar pela manhã, com o sol entrando levemente pela janela, e com aquela dificuldade de abrir os olhos como quem diz "Como dormir é bom! Me deixe um pouco mais aqui!". Talvez pra muitos isso não signifique nada, afinal, todo mundo dorme, ou, ao menos, deveria. Mas passei praticamente um ano - desde agosto do ano passado - numa espécie de "pseudo-transe", dormindo acordado, por assim dizer. E é lógico que isso não me fez nada bem. Então, ter a sensação de deitar e desligar de tudo depois de tanto, tanto tempo, é quase razão pra se emocionar. Quase terapêutico, eu diria.

Hoje, nesse lugar distante, me bateu saudades. Saudades dos meus melhores amigos, saudades dos meus companheiros de faculdade, saudades da banda mais doida que jamais pensei em ter, saudades de pessoas que estão próximas. Deixei tudo tão de lado pra resolver o que era só meu que tive a sensação de ser um canalha egoísta enquanto estava ali, no canto, deitado na cama. Mas, apesar dos pesares, acho que consegui o que eu queria. Acho que minha persuasão serviu pra alguma coisa digna e ajudará a todos eles, e especialmente a mim. Não tenho fascínio algum por rotina (os mais chegados sabem e bem), porém, não quero perder a rotina que conquistei nesse ano. Ela me trouxe muita coisa boa, também. Por hora, é tempo de encerrá-la da maneira que havia programado no começo de tudo e não quero deixar nada pela metade, inacabado. Estou voltando renovado pra fazer o que devo fazer.

Queria dizer que não dou a mínima pra suas lamúrias, que não vou me entregar só porque você quer, que meu Deus é maior do que tudo e que jamais vou desistir de levantar. Cuspa na minha cara e você vai ver todo esse ódio esvaziar como se fosse poeira, tente me derrotar e saberá que eu não costumo sair de uma briga derrotado - eu não vou sair derrotado. Você acha que pode lutar e eu acho que não vai suportar a dor que eu já suportei, então, continue seu jogo mesquinho e nós saberemos quem vai estar de pé no final. É óbvio que eu vou estar.

Estou dormindo bem e os pesadelos vão se afastando, aos poucos, e de uma vez.

sábado, 1 de agosto de 2009

Vacation

Estou adiando um post por aqui há séculos - ou meses, pra ser menos melodramático. Até escrevi algo lá no meu trabalho, nas minhas horinhas mais filosóficas e tranquilas. Mas, não sei, acho que preciso atualizar com algo mais fresco, novo. Algo mais espontâneo e diretão mesmo!

Pra desencargo de consciência e registro pessoal, devo dizer que minha vida vai bem - obrigado - e melhor do que na minha última passagem por aqui. De lá pra cá, fechei mais um semestre da faculdade, arranjei um estágio, minha banda caminhou pra frente, só coisa boa (tá, não só coisas boas, mas isso não vem ao caso). Inclusive sinto necessidade de conquistar coisas novas, uma vez que o básico, aparentemente, eu consegui nesse tempo.

Devo dizer que as férias também me trouxeram uma bela dose de paz, coisa que nem na época que estava "livre para o mercado de trabalho" eu encontrava. Talvez seja apenas o prenúncio de que o semestre que vem será caótico - TCC, gravações, conclusão de diversos tipos de negócios. Whatever, o importante é que pude me dedicar a leitura novamente (engoli livros durante esses dias), compor músicas (mais do que imaginei que seria capaz) e revisitar alguns amigos chegados (ainda faltam alguns, como não poderia deixar de ser rs).

Um detalhe ainda não mudou: 22 anos - um a mais que da última vez - e solteiro. Na verdade, não acho ruim não, prezo a liberdade demasiadamente e me sinto mais livre ficando sozinho. Porém, confesso que até gostaria de achar a pessoa certa, digamos assim, pra esse momento. Às vezes me pego viajando a respeito das possibilidades, daquelas que já foram, daquelas que deixei passar... não foram muitas a ponto de quebrar recordes, mas, francamente não foram poucas e isso me faz parecer seletivo demais. Talvez eu simplesmente não sirva pra casar, hum?

Falei isso pra minha mãe há poucas semanas e ela deu risada. Nada exagerado, apenas como quem diz "ok ok, vamos ver o que o futuro te reserva". Ela sabe que ainda sou novo pra me preocupar com essa história, e que não é um tipo de coisa premeditada pra que eu possa afirmar que serei solteirão pro resto da minha pobre existência. E eu até acredito que tudo se encaixe no futuro, mas não de maneira simples. Porque o destino seria simples se ele pode complicar? xD

Eu poderia até dizer, bem baixinho, que estou gostando de uma menina cuja distância e o status atual não combinam. Pãta merda ehm! Nem precisam me dizer o quanto isso é perigoso porque eu sei rss, mas tá difícil. E não é nenhum tipo de fetiche por gente compromissada, não mesmo, simplesmente aconteceu. Mesmo a distância ela aparece, invade os meus sonhos, me... bem, não sei dizer ao certo... e me dá ciúmes também. Caraca, caiu a ficha! Meu fetiche deve ser enfiar-se em situações complexas e perigosas uheauhea, só pode!

Acho que o bom de escrever uma bíblia a cada post é exatamente isso: pouquíssimos corajosos vão ler. E assim, mantenho um certo sigilo enquanto a escrita me consola como terapia particular. Quem sabe ainda console com boas risadas também, quem sabe.

4h13am, me despeço.
É hora de aproveitar as férias pra dormir.

o/